terça-feira, 27 de abril de 2010

1 ano e meio

Como havia prometido, eis abaixo o por-do-sol mais bonito que já vi. Acreditem, pessoalmente era ainda mais espetacular. Apesar de ser considerado um mago do photoshop (aham), eu não fiz nada mais que unir duas imagens para fazer a panorâmica. A cor é natural, eu nem tingi. ¬¬
E o mais engraçado é que o desenho da luz ainda lembra a minha tatuagem. Loucura!
Antes de ver a cena do lado certo eu estava do lado oposto do barco, e vi que lá estava aparecendo de leve esse mesmo desenho no céu, como que refletindo fraquinho a outra metade da abóbada. Dá pra acreditar? Eu tenho fotos.
Se olhar com mais atenção dá pra ver a nuvem responsável pelo desenho no céu beeem lá onde o sol se esconde. O formato dela foi o que fez dividir os raios solares.
Dedico esta imagem para a pessoa mais linda que conheci na vida, Gabriela, que me atura como namorado já há 1 ano e meio. Queria você aqui comigo vendo isso tudo de perto, lindeza minha. Te amo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Vida num barco

Independente do dia da semana, é quase impossível acordar muito depois das 7h. Além de estar mais claro que tudo, o movimento das pessoas nos três andares do barco parece reverberar nos cordões da rede. Não como belos acordes de viola caipira, mas como um rinoceronte tocando... qualquer instrumento.
E é importante apontar uma diferença entre a rede e a cama. Na cama, as técnicas de abafamento de som para continuar dormindo são muito mais eficazes. Você pode se esconder debaixo do travesseiro, usá-lo para dar meia volta em torno da cabeça, encostar um ouvido colchão e cobrir o outro com o braço... Enfim, o céu é o limite.
Já na rede, o desafio é grande. Primeiro que um travesseiro grande é inviável: atrapalha o equilíbrio da parada, dá torcicolo se você tentar usá-lo como faz normalmente e acaba sendo jogado pro lado das pernas, eventualmente amanhecendo no chão. Mesmo que você tente se esconder debaixo dele para dormir mais um pouco de manhã, logo percebe que o som passa pelo pano da rede, onde deveria haver um fofo colchão.
Um travesseiro com dimensões mais adequadas (pouco maior que um palmo) não tem alcance para vedar os dois ouvidos. Uma alternativa seria arranjar dois desses, posicioná-los sobre os ouvidos e amarrar um cadarço em volta da cabeça para segurá-los. Caso você consiga botar esta bela ideia em prática, por favor me envie uma foto mostrando seu sucesso.
Após finalmente dar o braço a torcer, você se levanta sem saber ao certo que horas são. No Pará era um horário, no Amazonas é outro. Mas poucos anos atrás era tudo igual - o horário do Pará foi mudado há pouco tempo. E muita gente do interior do Pará simplesmente se nega a adotar o horário atual, e continua se guiando pelo "Horário Antigo", como eles chamam. Infelizmente, essas pessoas não usam uma camisa escrito "Eu uso o horário antigo!", como bem deveria ser. E se você não fizer questão de saber a que diacho de horário eles se referem quando dizem que saem de casa às 5h da manhã, já era. A confusão está feita.
Agora estamos no Amazonas, e aqui o fuso é 1 hora a menos que no Pará. Mas como a tripulação do barco é toda paraense, volta-e-meia um deles se refere às horas no horário do Pará (não o antigo, veja bem). A dica pra não ter que se enrolar com nada disso é ter seu próprio relógio e saber bem em que horário ele está programado. E nunca, jamais diga que horas são a ninguém.

Depois de saber das horas, você se preocupa em verificar os estragos noturnos feitos pelos carapanãs e micuins. "Carapanã" e "micuim" são termos locais que significam: CUIDADO! Seres maléficos e sanguinolentos obsessivos por qualquer milímetro quadrado de pele disponível.
O micuim deve ser algum micro-parente da pulga, e você pode conseguir sua agradável companhia passando por qualquer capinzinho mais fechado na Amazônia. Seus locais preferidos são a virilha esquerda e a virilha direita, além de bairros vizinhos.
O carapanã é um mosquito de beira de rio. Ou melhor, um não. Tenho a teoria de que carapanã já é o termo coletivo, porque eles nunca estão sozinhos. Tanto que os habitantes locais nunca flexionam o plural, é sempre "os carapanã tão bravos hoje!" e "acho que os carapanã gostaram do senhor". O singular de carapanã deve ser "peraí que meus primos tão chegando". Até ouvi um cara fazendo piadinha uma vez. "Perguntaram se aqui tem muito carapanã. Eu disse que não, o problema é que você mata um e a família vem pro enterro". Incrível como a desgraça é uma ótima produtora de comediantes.
Lógico que o povo desenvolveu técnicas ao longo do tempo pra espantar ou pelo menos sair do caminho dessas pragas. A andiroba parece ser a principal delas, seja em forma de sabonete ou de essência. Dizem que fede pra caramba, por isso não é de se espantar que os mosquitos deixem de te amar. Ninguém vai te amar, pelo menos não de muito perto.
Mas a melhor técnica da qual fiquei sabendo foi para dormir em noite de muito carapanã. O normal (e mais confortável) é dormir na rede atravessado, na diagonal, porque assim a coluna fica mais esticada. Mas quando tem carapanã a rodo, um simples mosqueteiro não é proteção suficiente. A estratégia é dormir no meio da rede, curvado mesmo, e evitando ao máximo o contato com as beiradas da tela. Isso porque os mosquitos picam através(!) do mosqueteiro. Se houver só um joelho pressionado contra a tela, é ali que eles vão se fartar. Por isso não estranhe caso seu joelho amanheça feito um campo completamente minado - antes fosse catapora.
Você então esfrega álcool nas picadas, tentando fazer que elas cocem um pouco menos ao longo do dia. Não dá muito certo.

O fim da tarde também é um momento tenso. Você quer usar o laptop para trabalhar (ou atualizar seu blog pessoal), mas qualquer luz próxima que esteja acesa atrai centenas, milhares de mosquitos, moriçocas, mariposas, besouros, etc. E quando algum gênio tem a ideia de apagar tudo, é pra tela do seu laptop que todos os insetos do mundo se dirigem.
Quem se dá bem são as aranhas, que armam teias estratégicas próximas à luz. Se elas tivessem um friezer, em uma noite poderiam fazer o estoque de comida pro ano inteiro. Mesmo que limpem sempre, no dia seguinte as aranhas estão lá nos mesmos lugares.
E um dos piores insetos que têm proliferado no barco é o potó, também chamado de flamenguinho. Pequenininho, comprido e rubro-negro (daí o apelido), o bicho gosta de entrar nas roupas e até nas redes. O xixi dele que é o perigo. Ao encostar na pele, ele gera uma irritação que parece uma queimadura e faz nascer umas bolhinhas feias. Dizem que se elas estourarem, o líquido que vazar e encostar na pele causará a mesma irritação do xixi do potó. Se a parada funcionar realmente assim, você pode virar um gremlim em algumas semanas.
Acho que, por ter cores e um apelido tão simpáticos, nenhum flamenguinho ainda me atacou. Por favor, não repitam mentalmente esse "ainda" com tom de deboche em suas mentes. Gostaria de continuar assim, singelo turista com meus carapanã e micuins, mas sem queimaduras de potó.
Pra que não soe injusto falar de tanta dificuldade assim de uma vez, antecipo que o próximo post será sobre o pôr-do-sol mais absurdo que já vi. Na verdade não vai ter muito texto, a foto por si já diz muita coisa. Impressionante.

Obs.: fotos de Fábio Tito, só pra deixar claro.

domingo, 18 de abril de 2010

Faro e Urucará (Pará e Amazonas)

O último município paraense que visitei foi Faro. Estive até em uma comunidade chamada Maracanã. Infelizmente, não houve jogo no Maracanã este dia (hahaha, Tito hilário). Fiz a foto num barco que faz transporte escolar na região.

Em Faro também vi de perto uma família fazendo farinha de mandioca, e gostei dessas fotos.
Saímos de Faro e cruzamos a fronteira entre Pará e Amazonas. E finalmente chegamos a Urucará, uma cidadezinha que deve ter menos de 10 mil habitantes. Saindo do porto, você vê uma calçada grande que vai paralela ao rio. Mas não se engane: apesar de todos andarem por ali, no meio da "calçada", aquilo é uma via. Os carros e motos passam nos dois sentidos, buzinando pra que abram espaço. Em frente a essa via fica a Coopcostura, e as costureiras estavam mandando ver em pleno sábado.
Depois de fazer o que tinha de trabalho em Urucará, haveria o final de semana livre. Fui então pra uma prainha a pouco mais de 1 hora de distância (de barco), um rapaz local (urucaense!) deu a direção. Ao chegar, a internet caiu e eu não consegui mais falar com Gabriela, que deve ter ficado aos prantos.
Para seu conforto, ela deve saber que levei um baita tombo quando fui descer do barco. Escorreguei na rampa, caí de bunda em cima da minha mão esquerda, como todo o peso, e fui descendo até a areia. Infelizmente, ninguém documentou o momento. Minha mão, no entanto, ficou desse jeito:
Diga se meu dedo médio não parece um pino de boliche.
No domingo o tempo estava chuvoso, parecia que ia ficar assim o resto do dia.
E voltamos à sede do município, de onde consegui mandar este post.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O nascer

Volta-e-meia precisamos sair às 4h, 5h da manhã para acompanhar alguma rota escolar matutina. Os barqueiros saem para buscar as crianças bem mais cedo que o horário da aula, e nós temos que estar lá do início ao fim.
Foi assim que o sol nasceu aqui hoje:


E era tanta criança dentro do barco do cara que não teve espaço pra mim. Acabou que acompanhei o trajeto de ida na lancha, fotografando.


A foto é do Diego Baravelli.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Into the wild - Dentro do meio do mato

Lá em cima, o pássaro azul seria um frango-d'água - segundo fontes amazônicas. Depois, um gavião águila dourada do Marrocos tibetano, segundo as mesmas fontes. Os botos são impossíveis de fotografar, eles possuem um sexto sentido que os guia sempre para onde sua máquina NUNCA estará apontada. Essa foto foi na sorte. À noite, eles riem da sua cara e ficam fazendo acrobacias fora d'água, pulando como se fossem golfinhos hollywoodianos. Achei que botos nem faziam esse tipo de coisa, os julgava mais recatados. A preguiça foi avistada pelos olhos de lince de DaSilva, um dos membros da tripulação aqui. Disse que só não foi pegá-la na mão porque a margem estava alagadissa. Aquele dragão de Komodo em cima de uma árvore é uma iguana já adulta. Eu não fazia ideia de que tinha dessas por aqui.
Lógico que, na última foto, me refiro ao animal à esquerda da tela. Uma espécime horrenda ainda não catalogadas. Os tatus estão apenas de figurantes, fingindo que tomam sol sobre o tablado na varanda de casa.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Em Óbidos...

O barco chegou a Óbidos, no interior do Pará, no último sábado (10). O lugar é bem diferente, dizem que é a cidade mais portuguesa na linha do Equador.

Bizarro que, quando perguntamos onde ficava a pracinha, quase riram da nossa cara. A praça é um trem gigante, propícia para uma partida de futsal... Entre brontossauros. Eis aí a vista panorâmica.
Antes, em Aveiro, conheci uma região que bombou de seringueiros na época da 2ª Guerra Mundial. Quem comprava a matéria-prima da borracha na região era uma fábrica que a Ford montou. A fábrica deu origem a uma cidade que existe até hoje: Fordlândia. Lógico que a Ford picou a mula quando achou lugares mais interessantes pra investir, tipo, sei lá... a Malásia. Largaram pra trás enormes galpões abandonados, como este abaixo.

Esta imagem vai em homenagem à formiguinha que me picou no exato momento em que eu fui bater a foto. Havia uma cerca alta em frente ao galpão, e eu vi que havia um buraco por baixo pelo qual dava pra passar a câmera e fotografar. Foi o tempo de eu conseguir passar a mão e a formiguinha fincou os microdentes na junção entre meus dedos médio e anular da mão esquerda. Esta é pra você, amiga formiga. In your face. BTW, a picada inchou e está coçando até hoje.

Ah, e já ia esquecendo. Parece que pediram foto em que eu apereça, coisa de família né. Então aí vai, eu e a quiançada. Esta foto, quem fez foi a Bárbara.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Pouca internet em pouco tempo

É, não vai ser desta vez que vou me prolongar em um texto falando sobre minhas primeiras impressões da Amazônia. Tá tão correria que tô sem tempo, nunca tenho internet e, quando ela aparece, tenho que mandar o conteúdo pro blog do trabalho. Afinal, que blog é esse que nunca é atualizado? Dermilivre.
Seguem aí algumas fotos legais que fiz estes dias.

domingo, 4 de abril de 2010

Start the engines

Cheguei em Santarém, Parazão de meu Deus, mais um estado riscado da minha lista de desconhecidos. Antes o avião fez parada em Manaus, mas não vou riscar o Amazonas da lista ainda. Nem descer da aeronave eu desci. Vou ter bastante tempo pra conhecê-lo, já que daqui a umas duas, três semanas já devemos cruzar de barco a fronteira do estado em direção a Manaus mesmo.
Eu ia botar aqui uma foto do que mais se via da janela do avião, mas aparentemente a conexão acabou de cair e eu não vou seque conseguir colocar o texto. Isso quer dizer que estou escrevendo isto à toa neste momento, porque vou acabar atualizando o blog desatualizadamente depois. Opa, voltou! Vai o texto agora, depois tento botar a foto!

sábado, 3 de abril de 2010

Tchau, Brasília.

Como poucos já sabem, estou indo pra Amazônia por dois meses.

Várias pessoas sugeriram que eu fizesse um blog pessoal pra falar das coisas legais certamente vou ver. Esses felizardos foram atendidos, e aqui está. Vejamos se eu de fato vou lembrar de colocar coisas aqui, pelo menos umas fotos legais eu vou tentar com esmero.

Sobre a preparação, acho que vale falar o seguinte: se possível, tenha mais de quatro dias para se organizar antes de uma viagem de dois meses pra Amazônia. Não é tarefa simples, vou lhe dizer. Tomei diversas vacinas num dia só, comprei bota, sunga, bermudas, calça, regatas, repelente, protetor solar, desodorante, barras de cereal, polenguinhos, badulaques e balangandãs, avisei umas seis pessoas que vou ficar um tempo sem participar de seis projetos diferentes (é difícil não saber dizer não), adiantei (quase usei o termo "pari") um projeto gráfico quase inteiro de uma revista com um amigo, visitei o Lar Betel, despedi de alguns amigos no bar, despedi da namorada (que foi pra praia três dias antes de eu ir pro mato).

E cá estou, à meia-noite e vinte e três, gastando preciosos minutos de sono pra criar um blog. Acho que por agora é isso, aguardem os próximos posts, comentem aí me encorajando a escrever mais, esse tipo de coisa.