quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Dalai, for the record

Silêncio. O dalai lama está chegando. O auditório do luxuoso centro empresarial de São Paulo pareceu parar no tempo quando a movimentação de seguranças começou a indicar que sua santidade se aproximava.

... Alarme falso. O líder tibetano só chegou mesmo 15 minutos depois. Mas aquele silêncio entre jornalistas tão naturalmente tagarelas foi um bom exemplo da expectativa que gera a presença do Nobel da Paz admirado ao redor do mundo.

O sinal da internet, com o qual eu travava uma batalha virtual no notebook desde que cheguei, uns 40 minutos antes, pareceu registrar a aura nirvânica do monge e pegou no tranco que foi uma beleza. 'Uau. A presença do cara catalisa as ondas do ambiente, que, claro, entendem que devem ser um com o todo e se alinham, fornecendo uma banda larga decente', pensei.

Le(r)do engano, a internet voltou ao 'normal' - ou melhor, não voltou (a lugar nenhum) - em questão de segundos. Mas tudo bem, todos os sinais já indicavam que aquilo seria muito mais uma experiência pessoal que um simples dia de trabalho. Experiência pessoal de jornalista não é notícia (não deveria.!? - escolha sua pontuação); sendo assim, não há pressa em publicar quando o lead inexiste. Nem há por que batalhar contra a internet.

Ele chegou dizendo que estava ali para falar como um entre 7 bilhões de seres humanos. E nos metralhou em sequência com diversas frases que você imagina um monge budista falando no topo de uma escada muito íngreme que leva a um santuário em meio à floresta, mas que fazem muito mais sentido quando ele realmente as fala - mesmo sem escada e sem floresta.

Nada que me desse um lead pra matéria, mas tudo bem. A essa altura eu já havia decretado que estava de altas.

A paz, o amor, as metáforas, os sorrisos de olhos apertados... Enquanto o tradutor, um pouco nervoso de início ao lado da santidade em pessoa, traduzia para o português o que havia sido falado no inglês com forte sotaque, o dalai fazia a alegria dos fotógrafos com poses e caretas. As risadas dos jornalistas eventualmente interrompiam o tradutor, mas... quem se importa?

Dalai lama repetiu uma metáfora que gosta de fazer ilustrando o papel dos repórteres. Devemos ter narizes longos como o de um elefante, para 'cheirar' tudo com cuidado, tanto à frente quanto atrás. Está por fora, tem tanto jornalista que já segue à risca o conselho... Se espelhando no Pinóquio para conseguir o narigão, digo.

Enquanto ele falava, o monge auxiliar ao seu lado fechava os olhos de vez em quando, e o pensamento óbvio era: lá está um monge a meditar. Se era truque para puxar um cochilo ou realmente um exercício meditativo, nunca saberemos. Sei que segue aí uma boa ideia para aquela aula chata na faculdade ou a velha ressaca de sexta-pós-quinta-à-noite no trabalho. Apareça vestido de monge e cole a cabeça no encosto da cadeira, e quem há de duvidar da sua santa meditação?


Mas o monge auxiliar, muito diferente de você dorminhoco ressacado, parecia bem atento a cada palavra proferida pelo dalai. Sempre que sua santidade olhava para a direita com uma angulação maior que 15º, ele assentia com a cabeça, a sabedoria em pessoa. Sério. (Mas eventualmente voltava a meditar.)

Carismático, o Nobel aproveitou um gancho para fazer o merchand de seu novo livro, mas percebeu que a propaganda não foi muito útil ao saber que a publicação ainda sequer foi traduzida para o português. 'O dinheiro de vocês não será gasto, então', disse, com aquele sorriso... Aquele sorriso de Buda.

Perguntado sobre o que é mais importante, se a paz entre os povos ou a vida em harmonia com o meio ambiente, ele deu em questão duns 8 segundos a resposta com mais cara de sabedoria de ermitão possível: 'Você me pergunta o que é mais importante, a comida ou a bebida. Os dois são essenciais'. Segura essa.

Depois de responder a apenas quatro perguntas dos repórteres, escolhidas ao léu pela produção, o dalai olha para o relógio e decreta: 'We have little time. Last question!' Não cheguei a ver o relógio, o movimento foi rápido em meio às longas vestes budistas, mas tive a clara impressão de que ele olhou para o próprio pulso.

Sei que agora me pergunto se ele não estava checando o próprio pulso para saber quantas batidas o coração havia dado desde o nascer do sol e, assim, saber a hora exata. Ok, confesso que minha definição de dalai lama pode eventualmente se confundir com a de Mestre Yoda.

Passada a última pergunta, que infelizmente não foi sobre a veracidade do fim do mundo em 2012, sua santidade resolve fazer o caminho mais difícil dando a volta pela frente da mesa. Eu, que oportunamente estava por ali em busca do gravador encostado na caixa de som, não resisti ao impulso e saquei o celular para uma foto um pouco mais de perto. Virou minha proteção de tela. :D

(mentira, ficou tremida)

Fomos então deixados, nós, os jornalistas, com a incrível tarefa de escrever sobre aquele encontro transcedental de forma objetiva. Admito que me deixei levar um pouco e acabei escrevendo dois parágrafos iniciais com poesia tanta que só se veria em uma notícia sobre pôneis órfãos bebês abandonados na véspera do Natal.

Mas o sábio editor teve a destreza necessária para passar a tesoura e começar o texto dali em diante, a partir do ponto em que meus pés pisaram o chão novamente.

Passados alguns dias, comecei a sentir a obrigação moral de registrar o que haviam sido aqueles diversos minutos de uma sexta-feira na hora do almoço passados jejuando involuntariamente com o Nobel da Paz, um entre 7 bilhões de pessoas neste mundão.

Laziness wins

Ok, amigos. Eu já voltei do barco amazônico há muito, muito tempo. Lá pra junho do ano passado, como vocês podem ver no TER Pesquisa. Um monte de coisa aconteceu, e agora meu barco, se me perdoam pela metáfora besta, navega em um mar de prédios na Metrópole paulistana.
Pois é, justo uma daquelas metrópoles que se encaixam no comentário irônico sobre a imagem de abertura desta página... Hahaha.
Cheguei aqui no dia 27 de março, comecei a trabalhar no 1º de abril. Serião, nem é mentira.
Sei que, com a idade, vem aquela preguiça (mentira, a preguiça sempre esteve aqui) de toda a burocracia de criar um novo blog, e pensei: vou usar este mesmo. Depois, se houver saco (duvido), tentou fazer uma imagem diferente para abrir a página, aproximando as coisas da realidade atual.
E é isso. Vou ver se já subo um texto aqui de bate-pronto, pra fingir que vou de fato voltar com tudo a atualizar isso aqui com frequência. :]