domingo, 25 de março de 2012

"Hoje é o dia 18 de janeiro de 2009. Parece incrível – ao menos pra mim –, mas eu finalmente tomei a iniciativa de escrever alguma coisa. Não que eu não tenha escrito nada; foram alguns diversos e-mails, scraps e testimonials no Orkut, anotações de endereços em Manhattan (pro pedicab) no meu utilíssimo Moleskine-NYC... e é, foi isso. Deve ter sido o mínimo que eu escrevi no período de um mês nos últimos, uhm, dois anos – por causa da faculdade ou do estágio.
_
Não dá pra negar, o problema maior é a preguiça. Eu nem sei todos os pecados capitais de cor (seriam o quê: preguiça, soberba, gula, ódio, ahm... lerdeza [deio gente lerda, isso deve ser pecado], assassinato [inclusive o de você mesmo, que deve ser o pior] e... peidar no elevador), mas tenho o pressentimento de que eu me especializei mais nas artimanhas e nuances da prática (ou o contrário da prática [teoria?]) da preguiça. Se ao menos eu pudesse contar as vezes que eu pensei em escrever, pensei em começar um livro, um diário, um conto, um pensamento... Ah, aí sim! Contando essas vezes, eu já teria pelo menos uma dúzia de livros no meu currículo, no mínimo três deles em inglês ou espanhol – talvez uma versão trilíngüe de um deles, quem sabe.
_
A preguiça é a contemplação exacerbada de uma boa idéia, que é tão bonita e inteligente, e veio em hora tão perfeita, e você pega um copo de guaraná com gelo, e pense só se fizer uma pipoquinha no microondas pra comer enquanto admira essa bela e esplendorosa idéia, quem foi mesmo o gênio que pensou nisso... E aí já era. Quando vê, você está acordando às 3h30 da manhã no sofá da sala, a bacia de pipoca no chão só com alguns caroços, o copo de guaraná com um dedo de água do gelo que derreteu... E você não fez bulhufas, só contemplou. E, lógico, procrastinou: “Ok, agora que já pensei e repensei e tripensei em como colocar essa belíssima idéia em prática, amanhã às tantas horas vou começar a realmente pensar em fazer alguma coisa. Definitivamente.” Maldita preguiça.
_
E eu me pergunto se sou idiota por dar tanto espaço à preguiça, agora que finalmente consegui vencê-la e comecei a escrever. Fico aqui, todo panaca, exaltando o enorme poder que um sofá e um cobertor exercem sobre qualquer vestígio de iniciativa que parta de mim. Mas também me pergunto se não seria a vingança ideal. Eu pego a preguiça e escrevo sobre ela, e não só um parágrafo, mas alguns. E eu acabo tirando proveito desse poço de inutilidade que me conquista com um sorriso besta de um sofá confortável e a idéia de guaraná e pipoca, e do tempo passando pelas frestas da janela, por onde entram os mosquitos mais espertos. E desse jeito, a preguiça perde e eu ganho.
_
Vou tentar escrever diariamente, acho que vai ser um bom exercício. Queria tentar registrar quem sou eu hoje, onde estou, o quê e como penso. Não por algum motivo utópico de com isso definir minha identidade e ser um comigo mesmo e alcançar o nirvana e virar purpurina ou algo assim. Nada disso. É só pra que, como eu tenho certeza de que aconteceria, dentro de alguns anos eu não fique chorando as pitangas de não ter nem tentado registrar quem era o Tito de janeiro de 2009, 22 anos, morando no Queens, trabalhando em Manhattan, na cidade mais f*cking-cabulosa do planeta, namorando uma garota maravilhosa que neste momento deve estar sobrevoando o Atlântico para voltar pros alguns milhares de quilômetros ou milhas de distância que vão nos separar por pelo menos mais três meses nessa vida incrivelmente injusta e bandida – e sempre perfeita, da maneira como Deus a planeja. E eu escreverei."
..
Eu não escrevi.
_
Não muito, enfim. Mas valeu. Achei isto aqui em arquivos do passado, possivelmente uns dos mais antigos deste notebook que lhes escreve usando meus dedos. Se vencer a timidez, publico mais alguns relatos.
..
nyc.